terça-feira, 28 de setembro de 2010

Sobre ganhar e perder...

Nem tudo é perdido nessa vida, quanto mais para baixo você já tenha se sentido não quer dizer que nessa situação você não possa ter ganhado algo. Ganhar ou perder é uma questão de escolha. Infelizmente ou felizmente nem sempre, porque o que seria de nós se só escolhêssemos ganhar? Pessoas egoístas e que só vêm o próprio lado. Depende exclusivamente de como você queira encarar.

Vejamos: Ela.

“... Ela é daquelas que tu gosta na primeira, se apaixona na segunda e perde a linha na terceira...”. Todo mundo sabia disso, menos ela. Bonita, inteligente, engraçada, aquele jeito de menina-mulher que deixa qualquer homem louco. Por algumas pessoas odiada por tanto ser amada por outras e porque não justamente por isso. O amor e o ódio caminham lado a lado.

Era o brilho do olhar, o tom da voz, o perfume estonteante, seus cabelos pretos... Seu jeito de vestir e sorrir... Nem sempre tão em forma, mas na medida certa para fazer qualquer homem que ela quisesse feliz. Por algumas horas, por semanas, meses, anos... Como e quanto ela quisesse, sempre foi assim. No fundo, ela não era tão fácil de lidar, tinha que ser tudo do jeito que ela quisesse. Como se existisse um manual a ser seguido ditado por ela e ponto.

Uma menina-mulher tão mulher e tão menina, seu tom desastrado e desajeitado às vezes era até o que dava o ar da graça com uma pitada de exagero em tudo.

Embora demasiadamente sentimental, quem nunca sentiu seu coração ou o que restou dele feito de confete para fazer aleluia com todos os outros, que se apresente. Quando ela queria, simplesmente ia embora com seu salto 15 deixando para trás as lembranças e o perfume no ar, sem conversa, sem explicação e você via ela ali, indo encontrar outro que amanhã seria mais um do time. Quando ela achava que devia, voltava e você como bobo caia, aceitava a condição contanto que ela estivesse ao seu lado. Todo mundo sabia disso, menos ela.

Tudo é escolha. Ela escolheu ser assim, louca, desvairada, não se importar com o sentimento de ninguém, para falar a verdade nem mesmo com o seu.

Quando você lê tudo isso você imagina a mulher mais linda do mundo, apaixonante, poderosa, orgulhosa, devastadora de corações. Você tem razão ela era, todo mundo sabia, menos ela.

Ao se olhar no espelho, ao tirar a fantasia de super mulher, descer do salto, remover a maquiagem, era isso que ela via: um vazio, um cinza, alguém querendo algo sem saber o que e porque, sem saber o que fazer ou para onde ir e com quem, que pode ter o que quer mas não descobriu o que precisa de verdade, perdida, sem rumo, sem saber por onde começar e o que, dormindo sem vontade de acordar e acordando sem vontade de viver, um oco, um vácuo dentro de si, esmagada, mutilada. Mas viva, como se fosse uma campa antiga, com vermes e um cheiro podre, desfazendo-se, cheia de teia de aranha ambulante. Tudo que tentava não dava certo, o que começava não conseguia terminar justamente não sabia o que queria ou porque nunca se sentiu suficiente para ser uma boa companheira, uma boa filha, uma boa funcionária, uma boa amiga. Todos eram sempre melhores em tudo, e ela jamais ia conseguir ser igual. Gorda, feia, burra, fracassada. Isso ninguém sabia, mas ela sabia muito bem. Ela escolheu deixar a vida por mais de uma vez, mas a vida escolheu não deixá-la.

Ela não escolheu, mas um dia se apaixonou como nunca nessa vida, ela ganhou sentimentos bons e tudo que estava mal resolvido ficou nítido na sua cabeça, e ela escolheu fechar seus olhos e sentir uma mar de felicidade invadir seu coração e levar tudo ruim. Sentiu vida, sentiu paz. Encontrou um porque e por quem e com quem para tudo e com tudo.

Era ele e por ele, por tudo o que ela sentia e como passou a se sentir depois dele. O seu mundo parou, sentiu aquela sensação estranha e boa, um frio na barriga e um êxtase, como se tivesse nascido ou se vivesse drogada, rindo sozinha. Ela escolheu o amor. Automaticamente você escolhe perde as baladas, as bebedeiras sem destino, as paquerinhas do Orkut, mas agora você ganha um compromisso sério, novos planos, um novo caminho.

Ela não entendeu nada, nem ninguém. Era tão estranha aquela sensação de gostar de alguém que gostava dela. Ele não era tão diferente dos outros que haviam passado por sua vida, um rapaz comum, bonito, inteligente, apaixonado. Mais um. Mas a magia estava no gostar que ela sentia. Ele era correspondido por ela. Qualquer coisa do mundo tornou-se dispensável, e ela escolheu perder seu coração para ele.

Perdeu o rumo de paixão, mas ganhou dias mais felizes, tardes mais alegres, noites melhores ainda, madrugadas mais quentes. Perdeu tempo chorando por uma briga besta, horas para escolher um presente, escrever uma carta, fazer uma surpresa, tudo para ganhar um sorriso. Ganhou um amor para chamar de seu.

As coincidências, os fatos, o toque, o beijo, o abraço e amor.... Ela escolheu viver um conto de fadas pós moderno, não tinha como ser diferente, era tudo perfeito, ela o amava da raiz do cabelo (ou a ausência dele) até a sola dos pés literalmente, suas mãos, seu sorriso, sua barba, os pelinhos encravados que ela tirava com pinça, as espinhas das costas, o jeito de falar e andar, as pernas de sabiá, a voz desafinada, o peito peludinho.

Ela não escolheu, mas ela se sentiu especial e amada como nunca. Ela escolheu pedir para Deus que aquilo nunca mais acabasse como se no mundo só existisse eles e mais ninguém.

Era uma fixação, uma doença que como qualquer outra fazia doer de alguma forma, e de alguma outra a melhor sensação para sentir.

A certeza de que era ele o grande amor da sua vida, afastava cada vez mais ela dela mesma, mas algumas coisas não mudam, e ao se olhar no espelho alguns fantasmas não haviam sumido, estavam apenas dormindo. Ela tinha medo de perdê-lo, às vezes ela não sabia mais quem era de tanto que tinha ele dentro dela.

Escolheram ficar juntos para sempre. Fizeram todos os planos. Ela escolheu o vestido de noiva, o modelo do cartão, o lugar onde iriam casar, as musica do casamento, a lista de convidados, mas isso era um plano para o futuro. Não poderia esperar que tudo isso não desse certo porque eles haviam sido feito um para o outro.

Eles não escolheram, mas ela passou a ganhar tardes com enjôo, horas de preocupação, uma semana sem menstruar, duas... um mês... dois... perdeu a calma, começou a perder roupas, ganhar peso, estrias, peito, a barriga crescer e acabaram ganhando a melhor noticia de todas: foram escolhidos para passar a serem “três. E agora José?! Ela não sabia o que fazer e ganhou um abraço dizendo para ter calma que ficaria tudo bem... Eles escolheram esperar esse bebê, escolheram o melhor jeito de contar para todos, perderam horas ouvindo todos dizendo o que fazer e como será agora... Escolheram viver juntos e ser uma família. E os planos tiveram que ser antecipados com reajustes. Ou casa ou casa. Ela sentiu medo, muito medo, mas ele prometeu que daria tudo certo. Ele também deve ter sentido medo. Tudo era novo, tudo foi muito rápido. Rápido também era a batida do coração do bebezinho que eles ouviram juntos pela primeira vez. Escolheram não casar e morar juntos. Escolheram um macacão azul e um laranja e dois bodys creme, não escolheram nada rosa porque e se fosse menino? Escolheram uma aliança. Escolheram um novo endereço. Escolheram pratos, garfos, toalhas, xícaras, colher de pau, quadros. Escolheram como fazer tudo isso juntos. Ela escolheu jogar seu orgulho pelo ralo quando escolheu lavar, passar, cozinhar e fazer tudo o que um dia jurou de pé junto jamais fazer por alguém, e ela fazia com tanto amor. Escolheram um nome de rei para o pequeno que chegaria e suas roupinhas, seus móveis... Seu cantinho, era tudo por causa dele. Escolheram dormir juntos até ele chegar, e abraçados um ao outro a certeza de que seria para sempre e aquela atmosfera de amor os deixavam seguros para esperar o pequeno grande Rei. Ele chegou e transformou tudo em alegria, onde havia desunião, ele uniu, onde havia tristeza ele trouxe sorriso e paz, e objetivo e sentido... E um dia lindo, foram pra lá viver a família que tanto tinham sonhado e planejado com todo amor do mundo, cada qual da sua maneira, e todos fizeram tudo para que tudo desse certo. A vida a dois não é tão fácil quanto parece, mas tudo parecia ser tão perfeito para eles, ela o esperava com o mesmo frio na barriga de uma adolescente de 15 anos a espera da sua paixão, cuidando do pequeno e preparando a janta desde as 14 horas só para vê-lo sorrir. Perdia 5 quilos de arroz para fazer um que desse certo, perdia horas passando roupa, limpando casa e balançando o carrinho, aliás, ganhou a habilidade para fazer tudo isso ao mesmo tempo e ainda agradecer a Deus por tudo isso.

Mesmo que a rotina às vezes fosse se mostrando, ela tentava sempre inovar e tentar achar um meio termo para que tudo sempre fosse diferente e novo... E ele a sua maneira, também fazia tudo o que podia.

Quando ela dormia nos braços dele ela sentia-se uma deusa, quando ele saia para trabalhar ela voltava a se sentir mortal. Ela mal lembrava qual foi o começo deles, não começaram pelo começo, já era amor antes de ser...

Mas o tempo passa. Os peitos dela caíram, a barriga caiu, o cabelo caiu, os dentes enfraqueceram, a sua pele ficou horrível, a gravidade mostrou a que veio, sua auto estima despencou junto com o resto do seu corpo. Ela não se sentia mais bonita, perdeu a vontade de se arrumar, não se sentia mais mulher e nem desejada. Não ouvia mais elogios, engolia todo dia essa dor.

Ele chegava do trabalho cansado, preocupado com as responsabilidades de ter uma família e não reparava que além dela limpar a casa, cuidar do filho, tentou se arrumar, ficar mais bonita e esperava ser amada essa noite. Ela não falava nada, ia dormir.

O bebê chora a noite, ela chora a noite, ele dorme a noite... Ela tem sua casa, sua família, mas às vezes se sentia tão tão sozinha.

O chá da noite fazia ela engolir aquela tristeza.

Quem ela era? Nem mesmo ela mais sabia, ela não queria ser quem ela era. Ela tinha medo.

A paixão tão louca vira uma rotina. Coisas que eram feitas com tanto entusiasmo, viram obrigação. E isso dói. E ela se guardava no silencio que atormentava o dia todo porque ele iria voltar a noite e ela poderia usar dessa expectativa da surpresa de que aquele noite seria diferente para não desistir de tudo.

Mas ela não sabia o que passava dentro do coração dele, ele tinha seus medos, suas preocupações, queria resolver coisas que ela não queria que fossem solucionadas, por medo, insegurança, ela tomou tantas atitudes impensadas e imaturas apenas como auto defesa e com seu jeito errado de fazer as coisas, pensava que estaria fazendo o certo para conservar seu conto de fadas e tentar se sentir especial, sendo aquela mulher que todos achavam que ela era.

Mas ela sabia que não era, e isso que a feria, ela tinha que ser, mesmo que fosse de mentira, porque ela não poderia perder o que ela quis tanto.

E ela falhou, ela teve medo de dizer que tinha medo, que gostaria de ser mas não era tudo aquilo, que precisava de ajuda para ser.

Quando ela tentou dizer, era tarde demais. De fato, existia um abismo entre eles, mas foi exatamente ali, bem no meio da dificuldade que eles não encontraram a solução que eles tanto precisavam: o dialogo.

Tudo era tão dolorido que não valia pena mais falar a verdade, a mentira, e o arrependimento por atitudes erradas doía tanto quando saber que as boas atitudes não valeram de nada. Nem para um, nem para o outro. Cada um conhece sua dor.

A fala só é bonita quando ela nasce de uma longa e silenciosa escuta, é na escuta que o amor começa, e é na não escuta que ele termina... Ela queria dizer, ele não queria ouvir, ele queria ouvir quando ela não tinha coragem de dizer, e nada fazia voltar o tempo que eles perdiam. Versões eram dadas e já não existia mais amor para suportar aquela dor. Não era mais possível ver as flores, só os espinhos.

Um dia é preciso parar de sonhar e, de algum modo, partir. Ele pediu para que ela fosse.

Ela foi, com seu filho, suas roupas...

Perdeu o rumo, a paz, a felicidade. Ganhou noites em claro. Pediu para voltar, implorou, pediu de joelhos. Quis morrer, quis viver, quis conversar. Já não havia mais amor para perdoar, para tentar. Talvez porque nunca tivesse existido amor.

Mas pra ela não tinha sido mais uma historia, tinha tocado sua alma, não era a primeira vez que ela se sentia perdida, sozinha, burra, mas tinha sentido sua alma tocada. Não queria abrir mão disso assim, tão fácil. Como poderia?!

Ela escolheu causar, mandar e-mails, ligar, atormentar, tentava colocar para fora tudo o que pensava na hora, causou constrangimento para todos.

Na sua família, na família dele. Perdeu o emprego, talvez tenha feito ele perder o dele também, ficou a beira de um abismo.

Perdeu a vergonha, perdeu a confiança de todos. Já não sabia mais o que queria. Perdeu-se simplesmente.

Ela tinha um filho pra criar, e não era hora de partir. Seu filho a mantinha ali.

Ela tinha que continuar, e continuou. Escolheu chorar por 300 dias, às vezes o dia todo, às vezes a noite toda, às vezes por algumas horas, às vezes em alguns momentos, às vezes quando passava por lugares que eles tinham passados juntos, às vezes quando se sentia sozinha com um filho nos braços sem saber o que fazer, as vezes quando lembrava de coisas que eles tinham passado, ou quando sentia saudade do que nem havia vivido. Quando ouvia alguma música, quando via alguma coisa no Orkut dele, quando sentia o cheiro do seu perfume, ou mesmo do cheiro do Veja que limpava sua casa. Chorava no metrô, chorava na rua, já não importava se tinha alguém olhando, chorava em casa, chorava no travesseiro ou na frente de todo mundo... Quando ele vinha ver o a criança ou quando deixava de vir. Escolheu pedir ajuda e escolheu alguém que pudesse ouvir. Conseguia ver as coisas de outra maneira, mas não tornou a queda menor. Quando descobriu que o Rei teria uma irmã, ela decidiu esperar por essa bebê e ele pediu para que ela não tivesse, nem queria saber nada sobre ela. E como doeu, como foi difícil. Não sabia nem como seria sua vida sozinha com seu filho ainda mais com mais um. Ele não quis saber. O tombo foi alto. O tombo foi proporcional a altura de 11 andares. Ela refazia a rota que seu coração traçou. Por dias, voltou ao apartamento, perdia aula da faculdade, perdia as forças de tanto chorar, e ensaiava um modo para deixar de sentir aquela dor, abraçava seu travesseiro e fingia que ele estava ali. Cheirava suas roupas e pedia a Deus que aquilo acabasse. Dormia no sofá com seu filho enquanto o quarto do seu filho estava trancado cheio de pó. Era uma dor imensurável. Ela não escolheu, mas sua bebê não quis vir ao mundo, ela sentiu dor, sentiu muita dor, em todos os sentidos. Muita dor. Era muita dor. Dor. Ele não quis ficar com ela nesse momento tão difícil, pediu para que ela fosse embora quando ela tentou fugir para o apartamento para buscar refugio. Ela ganhou uma lesão no útero e perdeu parte dele. Ela sentiu muita dor. Não havia remédio que amenizava nenhuma dor. E as marcas ainda não passaram, mas vão passar. Tudo há de passar.

Não foi só ela que errou, quando ela precisou dele, ele também falhou, mas hoje ela vê aquelas atitudes como auto defesa da sua dor. Não foi fácil para ele também. Não é fácil para ninguém.

E no cartório onde não teve tempo para começar, foi onde terminou tudo com a autenticação confirmando a separação do que eles conquistaram juntos. Se foi justo ou não, ninguém sabe. Cada um tem sua razão, um porque fez isso ou aquilo, o outro porque deixou de fazer aquilo ou isso. Tudo mal resolvido como desde o começo.

Ela queria voltar no tempo só por um dia, mas não era para mudar algo, porque ela não poderia, era só para reviver alguns momentos que ela sentia tanta saudade. De tristeza ela ia viver, e aquele adeus não pode dar.

É fácil guardar as lembranças boas, o difícil é lidar com a partida, com o fim definitivo. É difícil encarar de frente, as palavras viram ofensas, e tudo é motivo para brigar. Um para se defender, um para revidar.

Mas o tempo faz seu trabalho, e ele ensina. Ela conseguia imaginar a vida dela sem ele, mas para não se sentir tão triste como de costume, ela permitia as vezes imaginar que em um futuro próximo para confortar seu coração, ele estaria lá. É muito mais fácil se apegar no que a gente gostaria que fosse do que no que realmente é real. E com tantas atitudes que feriam sua alma, ele mostrou que não estaria lá. Passado um tempo, ela mesmo já não queria que ele estivesse.

Comeu o pão que o diabo amassou, só Deus sabe o que ela passou e foi em seu filho que ela encontrou forças para continuar, ele era, foi e será seu motivo acima dos motivos, sobre tudo e qualquer coisa para cada dia ela tentar ser alguém melhor, por ele, ela sabe que vale a pena....

Um dia ela foi surpreendida com a seguinte pergunta: se pudesse voltar atrás e refazer tudo o que quisesse, se voltaria. Sabe qual foi sua resposta? NÃO.

Porque? Porque se não, não teria se tornado essa pessoa que se tornou hoje, antes, suas atitudes eram voltadas e projetadas em fazer alguém feliz, nunca nela mesma, no que ela era. Teve que virar mulher da noite para o dia em prol da maior verdade da sua vida, ela ouviu que estragou a vida dele, mas para ela, ele trouxe vida, mais do que vida, um objetivo de vida.

Se ela falar que sua vida é só tristeza por isso, estará mentindo, mentindo muito. Ficou muito, muito triste e jamais poderia se perdoar se conseguisse sentir-se diferente. Ela foi feliz. Deus colocou em suas mãos a felicidade e o sentimento de protelar isso para sempre e de viver seu conto de fadas que poderia terminar com o “e viveram felizes para sempre...” Mas o abismo que ela estava era tão escuro e frio que ela não pode pedir ajuda para sair e para o fundo ela puxou tudo de bom que a vida poderia oferecer. Ela acabou com tudo. Ela adorava aquela vida feliz, por isso foi tão difícil aceitar o fim. Ela adorava ter descoberto o amor, seu filho, adorava seu marido, sua família, sua casa, seus móveis, seus pratos, as suas panelas, adorava fazer a comida errada, adorava arrumar sua casinha, o café amargo que ele preparava ou quando estava doce demais, adorava ficar pendurada na varanda para ele chegar, e dizer: “Oi meu amor!” e como foi difícil deixar de chamá-lo assim. Ela estava tão entregue que nem sabe onde foi parar quando ele foi embora, ou ela foi, ou eles foram. Sentia falta dos seus defeitos até, de procurar receita na internet, de ir ao mercado, na feira. Embora todos achassem que ela não sentia nada, só ela sabia, mesmo desmascarada, nua e crua, o que ela sentia permanecia lá, mesmo como ele, demasiadamente ferido, magoado e decepcionado, ela tinha motivos para deixar de amá-lo, de jogar na merda tudo o que sentia. Não bastava ela ter reconhecido que errou e tentar fazer tudo certo. Tudo o que ela fazia era invalido agora. Ela tinha morrido de amor e continuava vivendo. A alegria dela era triste sem ele. O amor é teimoso.

Ela decidiu parar com aquela agonia, nada ia mudar. A sua vida continuou, ela voltou para a faculdade, arrumou um bom emprego, tentou colocar pessoas no lugar dele, conseguiu. Depois via que era impossível. A maior loucura era tentar colocar a razão para sufocar seus próprios sentimentos. Ela não poderia pedir que ele a perdoasse, às vezes nem ela mesmo conseguia. Ela mesma cavou a cova que ela se enterrou. Ele desprezou seu amor, ele foi indiferente com esse amor. E ela teve que matá-lo para continuar a viver.

Nessa vida, tudo que plantamos vamos colher um dia e quem planta batata não poderá colher alfaces.

Todo mundo perdeu. Todo mundo perdeu muito. Agora é uma questão de escolha querer ganhar também.

Ela escolheu ganhar, ganhar vida, a chance de ser alguém melhor, uma boa mãe, a valorizar sua família que nunca a abandonou, e com todas as dificuldades ver nas coisas mais simples a oportunidade de mostrar que sendo ela mesma, sem ter que provar nada para ninguém, pode ser feliz e fazer alguém feliz, sem mudar nada. Do jeito que exatamente ela é, simples assim. E poder se sentir amada, de verdade. Ser a pessoa mais linda e única do mundo para um ser que é tão pequeno e frágil, e que a ama incondicionalmente e ela vê em seus olhos esse amor e a força para lutar.

Escolheu acompanhar de perto os passos do seu filho e as noites em claro do lado dele para fazer parar de chorar ou simplesmente vê-lo dormir. Isso, ninguém pode tirar dela, o sorriso, ver seus primeiros passos, achar lindo até o coco, saber o que ele gosta de comer, sua rotina, o que ele acha engraçado, escolher suas roupas, criar alguns hábitos legais e repreender os que não são... Sentir o cheiro, o abraço dia e noite, a hora que quiser. As vezes não é fácil, ela tem sua família, seu pai, seu irmão, seu namorado, que tantas vezes quase que diariamente assumem papeis que não são de suas responsabilidades, correm para o hospital, passam noites em claro, ajudam a cuidar, mas dividem muitos momentos de felicidade ao lado desse anjo, mas não é o pai dele. Cada gesto novo que enche ela de orgulho ela gostaria de dividir com o pai dele e nem sempre é fácil, incrível, mas ela fica pensando o que ele vai pensar se ela ligar do nada para contar que ele aprendeu uma palavra nova... Porque hoje ela sabe criar um filho sem marido, mas não quer criar sem um pai, mas vai saber o que ele vai achar... Infelizmente ele vai perder isso e ela sabendo do valor desses momentos, tenta passar da maneira menos dolorida para ele essas coisas. E com o tempo, tudo vai se ajeitar. Todo mundo tem que crescer como pessoa, e eles vão aprender. São os melhores pais do mundo e o pequeno sabe disso, cada um da sua maneira. E todo mundo sai ganhando se quiser.

Tudo isso conseguiu ser escrito porque depois de lembrar todas essas coisas, as boas, as ruins, as péssimas, o que a fez feliz e o que a fez quase morrer de tristeza, pela primeira vez ela não chorou.

Ela escolheu crescer e amadurecer, a encarar de frente e entender que cometeu falhas, mas que acertou bastante e que acima de tudo esta tentando só acertar agora, mas que será menos exigente se por acaso cometer algum deslize, ela é um ser humano sujeita a falhas, e nada que faça é para prejudicar, como nunca foi, foi só tentando acertar. Aprende. Aprende. Aprende que dói menos. Respira que vai passar um dia, outro, um mês... Tudo vai melhorar se você escolher que vai. Ela não errou. Ela amou.



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